Alan Ricardo
No filme Wolverine-Imortal, lançando no Brasil em 2013, o início da história retrata, de maneira rápida, uma lembrança de Logan quando, em meados de 1945, é mantido prisioneiro perto de Nagasaki. Naquela oportunidade, Logan acaba resgatando da morte um oficial que, antes do bombardeiro atômico de Nagasaki, decidiu suicidar-se junto com seus companheiros. Anos depois, o mesmo oficial – dessa vez um velho rico e perto da morte – pretende retribuir Logan com a mortalidade. Partindo desse filme percebemos logo de início que a construção da história do Japão é, muitas vezes, associada aos momentos de guerra, como o bombardeamento de Hiroshima e Nagasaki no final da Segunda Guerra Mundial, a imperadores cruéis, vemos um país assolado por terremotos e tsunamis.
Enfim, quando ouvimos falar do Japão percebe-se, em maior ou menor grau, como as representações desse povo são elaboradas a partir da ideia de tragédia (guerras, tsunamis,etc) desconsiderando, por isso, outros elementos de sua cultura (artes marciais, artesanato, arquitetura, animes, etc) .Além disso e atualmente, o Japão é considerado a terceira potência mundial e com uma qualidade de vida inigualável. Mas, afinal, o que o Japão tem de interessante em sua história?
A história do Japão, segundo o historiador Yamashiro (1964), não é fácil de explicar, pois, além da complexidade inerente ao processo de formação e consolidação, a história deste povo se confunde, por vezes, com a origem dos tempos. Em geral, os japoneses não se constituem como um povo puro, pois na composição dos japoneses encontramos a junção de Tunguses, Ainos, Indochineses, Indonésios, Negritos, Hans, entre outros. Geograficamente, o Japão é um arquipélago ou, mais exatamente, formado por ilhas que atravessam o norte e o sul do país em frente à costa leste da Ásia, na parte noroeste do oceano Pacífico. Em razão da sua localização, o significado da palavra Japão (no entanto, os japoneses utilizam a palavra Nippon) é, basicamente, “origem do sol”, pois, no período da dinastia chinesa Sui, remetia à posição do Japão em comparação com a China (ao leste).
A periodização da história do Japão é, quase sempre, feita com base em eras/períodos. Esse tipo de divisão tem como fundamento o imperador que estava no poder, ou seja, uma determinada época é classificada mediante a quantidade de anos do imperado ou de sua dinastia. Desse modo, a classificação da história japonesa dividiu-se em termos gerais em: pré-história, período Jomon, Yayoi, Kofun, Asuka, Hakuhō, Nara, Heian, Período Kamakura, Restauração Kemmu, Período Muromachi, Período Sengoku , Período Azuchi-Momoyama, Período Edo, Período Meiji, Período Taishō, Período Shōwa, entre outros. Esses perídos englobam, a um só tempo, a divisão utilizada para os povos ocidentais (idade antiga, medieval, moderna e contemporânea).
Dentro de tantos períodos, é importante sublinhar nesse contexto, o período Heian (794-1192) marcado, além do estabelecimento do regime shogun, também pelo surgimento dos samurais. O shogun (ou xogum) era um título militar concedido diretamente pelo imperador ao indivíduo que destacava-se na guerra e tivesse condições de liderar o exército. Trata-se, então, de um comandante de exército. Nesse período cada região do Japão tinha seu próprio governador – chamado de daimyou – que deveria obedecer ao imperador. No entanto, ao invés de obedecer ao imperador e às suas ordens, os daimyos obedeciam aos shoguns (chefe de exército). Pode-se considerar, então, que os shoguns constituíam, no final de tudo e na prática, como os verdadeiros governadores do país, mas teoricamente, o Imperador era o chefe supremo.
É neste momento da história japonesa que o samurais surgiram. Mas qual a razão da existência deles? No final do século IX, o Japão foi assolado por uma crise econômica que acabou resultando, entre outros fatores, em epidemias e fomes. Com o crescimento da mortalidade e o aparecimento de rebeliões por todo o país, o imperador com o objetivo de acabar com essa situação concedeu, portanto, amplos poderes aos governadores (daimyo) de cada região para recrutar camponeses ao exército. Surge, a partir de então, os samurais.
A palavra samurai significa “aquele que serve”. Em troca dos serviços prestados aos governantes, os samurais recebiam em muitos casos, privilégios (como terras, comidas, etc). O código de conduta dos samurais era denominado bushidô, ou mais exatamente, caminho do guerreiro. Neste código, os samurais deveriam ter no mínimo, lealdade, retidão, veracidade, honra, coragem, entre outros aspectos. Além disso, o mais importante para um samurai era, sem dúvida, o nome e a honra. Segundo esse pensamento, suas vidas eram limitadas, e somente o nome e a honra poderiam ultrapassar o tempo e eternizar seus feitos. Em outras palavras, a morte em guerra era uma forma de alcançar a glória. Assim, de coletores de impostos a agricultores, os samurais acabaram se tornando uma classe fundamental para sustentar, de maneira duradoura e efetiva, o império japonês.
Se levarmos em consideração a história do Japão percebemos, de imediato, singularidades e especificidades. Para tanto, a história do ocidente (sobretudo da Europa) é construída sob condições diferentes. Se na Europa presenciamos, durante a modernidade, a construção do Estado e o nascimento da ciência, por outro lado, no Oriente – África, Ásia e, nesse caso, o Japão – verificamos, portanto, uma maneira de desenvolvimento social, econômico e cultural baseado em outros parâmetros. Nesse sentido, é necessário distanciarmos do chamado eurocentrismo que busca entronizar, como centro no estudo das sociedades, os valores e ideias oriundos exclusivamente da Europa. O estudo das civilizações orientais – como o Japão, China, Índia e o Oriente Médio – pode ajudar, com efeito, na compreensão de outros fatores que não ganharam visibilidade no estudo do Ocidente.
Texto retirado do blog Causas perdidas e publicado com autorização