Nei Nordin

Quem disse que a História do Brasil não fornece elementos para uma boa trama de aventura? Quem duvida pode assistir a animação “Uma história de amor e fúria”, lançado em 2012 e dirigido por Luiz Bolognesi.

Uma história de amor e fúria3Em 1566 havia na Guanabara um índio tupinambá chamado Abeguar. Ele nutria um amor imenso por Janaína e, com ela, sua vida de índio corria tranquila. Abeguar estava em tempo de se tornar homem e para isso passava pelos rituais sagrados de transição. Mas durante a realização dos ritos, ele ficou sabendo que sua missão seria bem maior: ele teria de lutar eternamente contra as forças do mal (Anhanguá) e para isso não haveria nunca de morrer.

Assim começa a aventura do guerreiro imortal que em nossos dias possui já seiscentos anos de idade. Ele vivera todos os momentos e passara por diversos conflitos sociais da história do Brasil, sempre combatendo Anhangá, mas sua motivação maior era estar perto de Janaína. Reencontrá-la num eterno ciclo. Cada vez que nosso herói morria, ele transformava-se imediatamente em um pássaro e permanecia nesta forma até encontrar a reencarnação de sua amada.

Abeguar presencia diversas guerras. Ele está com os tupinambás contra os portugueses no século XVI; na revolta da balaiada, no Maranhão do século XIX, sufocada pelo General Lima e Silva, o duque de Caxias; posteriormente no Rio de Janeiro no contexto da ditadura militar em 1968. Aqui ele participa do movimento de guerrilha urbana e pratica assaltos a bancos para financiar o movimento. É preso e sofre barbaramente a tortura. Pode resistir à dor, mas não suporta a idéia de ver sua amada sob o mesmo tormento. Decide então entregar os companheiros em troca da liberdade de Janaína.

Uma história de amor e fúria2Por fim o guerreiro encontra-se num Rio de Janeiro do ano de 2096, um futuro caótico de grande abismo social e monopólio da água por grupos empresariais. Anhanguá assume várias formas e o herói sempre procura proteger sua amada em meio à luta.

Trata-se de uma animação de ótima qualidade e posso dizer que a trama me agradou bastante. A produção contou com a consultoria de historiadores e antropólogos buscando maior rigor contextual. Uma história de permanência através dos tempos que oferece algum panorama da história do Brasil, quase transcendendo os dramas pessoais e procurando demonstrar os interesses maiores de grupos elitizados.

Não chega a fazer nenhuma análise histórica sobre o tempo ou o passado, mas o personagem repete por vezes o bordão de que “quem não conhece o passado vive na escuridão”: um bom recado aos nossos dias.