Uma tragédia marcou profundamente a memória coletiva dos cidadãos da capital gaúcha.
Nei Nordin
Em maio de 2024 o Rio Grande do Sul passou pela pior catástrofe ambiental e humanitária de sua história.
A elevação das águas do lago Guaíba e demais rios da região, acrescentados do rompimento de barragens e excesso de chuvas deixaram milhares de pessoas desabrigadas e causaram prejuízos colossais à economia do Estado.
Imediatamente as memórias se voltaram para a enchente de 1941, até então o pior evento climático da cidade.
Foi um evento traumático que ficou profundamente cravado na memória coletiva. Todo cidadão na casa dos 50 ou 40 anos já ouviu histórias e relatos sobre os dramas enfrentados. O nível das águas chegou aos 4,76 cm, apenas superado pelos 5,30 de 2024.
Um quarto dos habitantes da capital gaúcha ficaram desabrigados. Entre os meses de abril e maio daquele ano, durante 22 dias, chuvas se distribuíram pela bacia hidrográfica da Lagoa dos Patos. O pico foi registrado no dia 8 de maio, com grande impacto sobre Porto Alegre e sua região metropolitana, chegando aos 4,76.
A estimativa é de que 15 mil casas tenham sido inundadas e 70 mil pessoas desabrigadas. A população da época era de 272 mil habitantes. Da mesma forma que na atualidade, barcos passaram a ser o principal meio de transporte.
O “pacote básico” da tragédia se repetiu: falta de energia elétrica e de água; suspensão das atividades empresariais; destruição das estradas e ferrovias e proliferação de doenças causadas pela contaminação. Os prejuízos ficaram em torno dos US$ 50 milhões.
As áreas mais atingidas foram os bairros do Centro, Navegantes, Passo D’Areia, Menino Deus e Azenha. Com as aulas suspensas, as escolas se transformaram em abrigos para as pessoas desabrigadas.
A enchente evoluiu lentamente, o que deu tempo para que as pessoas deixassem suas casas. O então governador do Estado era Cordeiro de Farias e o prefeito de Porto Alegre, Loureiro da Silva. Foi criada uma força-tarefa para combater a crise e o contingente inteiro das Forças Armadas no Rio Grande do Sul foi acionado.
Após a enchente de 1941 a cidade construiu um sistema de proteção contra as cheias incluindo 68 km de diques. O muro da Mauá (1972) passaria a fazer parte do cenário da cidade e se tornaria polêmico e objeto de debates. Muitos governantes já defenderam sua derrubada por atrapalhar a visão do Guaíba. Ninguém imaginava que ele, mesmo ineficiente, se tornaria tão necessário. Muitas das 14 comportas de vedação falharam em 2024 e as casas de bombeamento foram ineficientes.
Foi enfim a combinação de diversos fatores que resultaram em uma enchente de proporções históricas. Regiões inteiras da cidade ficaram submersas, pontes foram destruídas e infraestruturas essenciais, como sistemas de transporte e fornecimento de água, foram severamente comprometidas.
A cidade enfrentou um desafio monumental para fornecer abrigo, alimentos e assistência médica às vítimas deslocadas. A população demonstrou sua resiliência e toda uma rede de solidariedade foi mobilizada. Vizinhos se uniram para ajuda mútua e voluntários se dedicaram ao auxílio das vítimas.
A cidade foi praticamente reerguida de ruínas e se recuperou gradualmente da tragédia.
Curiosamente os dois eventos climáticos extremos (1941 e 2024) ocorreram no mesmo período do ano. A enchente que completa 83 anos em 2024 foi registrada entre os dias 10 de abril e 14 de maio.
A enchente de 1941 deixou uma marca indelével na história de Porto Alegre, mas também mostrou a capacidade da cidade de se reerguer e se reinventar diante da adversidade.
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