Ataque a Pearl Harbor

Bráulio Flores

Pearl Harbor, Havaí 07 de Dezembro de 1941, em apenas 2 horas os aviões japoneses, sem aviso prévio liquidaram a maior parte da frota norte-americana. A guerra chega aos domínios dos Estados Unidos.

Concebido pelo almirante Isoroku Yamamoto, o ataque japonês a Pearl Harbor é considerado uma das mais ousadas e bem planejadas operações aeronavais da Segunda Guerra Mundial.

Diplomacia e Ousadia

Na década de 30 o Império Japonês implantou uma política expansionista. Por volta de 1935 diversas nações e territórios do sudeste asiático já se encontravam sob domínio nipônico. Vários recursos logísticos, entre eles minérios e petróleo eram necessários para o Japão manter suas bases nas terras conquistas. A grande maioria desses suprimentos era importada dos Estados Unidos.

A política externa americana implantada pelo presidente Franklin D. Roosevelt era abertamente contra “o domínio japonês de nações e povos indefesos”. Com a intenção de conter os abusos japoneses na China e Coréia o governo dos Estados Unidos resolveu adotar uma política de redução às exportações de minério, sucata e petróleo ao Japão. O que gerou uma grave crise diplomática entre os dois países.

Quando o Japão assinou o pacto Tripartite com Alemanha e Itália, “nações fora da lei” segundo Roosevelt, as relações diplomáticas nipo-americanas ficaram mais frias. O governo dos Estados Unidos agora considerava o Japão integrante do “Eixo do Mal” e não mediaria esforços para conter esse inimigo em potencial.

Mas era preciso agir com cautela. A guerra na Europa já se arrastava por quase 2 anos. A opinião publica americana era adepta ao isolacionismo, tinha horror de se envolver numa nova guerra, que só traria dor e tristeza aos americanos. Em outras palavras o povo americano não queria a guerra. Por esse motivo Roosevelt resolveu negociar com o Japão.

A Casa Branca designou o Secretário de Estado Cordell Hull para negociar a “paz restritiva” com o embaixador japonês almirante Nomura. Durante meses os diplomatas americanos e japoneses discutiram meios para manter a paz. Os americanos não abriam mão de exigir garantias sólidas para a paz firmadas pelo governo japonês. Para acalmar os americanos foi enviado do Japão Saburu Kurusu representante oficial do imperador Hiroito. Para honrar todos os acordos feitos com os americanos.

Mas ao mesmo tempo em que Nomura e Kurusu negociavam com Hull, o Alto Comando da Armada japonesa preparava-se para desencadear o ataque a Pearl Harbor. Dando a esse episódio a alcunha de “A Grande Traição” (7 de Dezembro de 1941 passou a ser conhecido na história como “o Dia da Infâmia”).

Porque Pearl Harbor?

A base aeronaval de Pearl Harbor no Havaí era um ponto estratégico norte-americano para a defesa da costa oeste e de seus protetorados na Ásia. Com a ofensiva japonesa no sudeste asiático, o comando da marinha americana decidiu deslocar a frota baseada na Califórnia para Pearl Harbor, como forma de dissuadir qualquer ameaça japonesa, as possessões americanas na Ásia.

Pearl 02Pearl Harbor reunia todos os meios para servir de Quartel General das Operações Combinadas da Marinha e Exército dos Estados Unidos. Além de possuir uma posição geográfica perfeita, dispunha de estaleiros e docas secas para reparos, bases aéreas para 20 esquadrilhas de aviões, diversos cais para atracagem de navios, uma excelente infra-estrutura de comando, onde incluía-se centro de controle aéreo com radar e um hospital de base. Todos os recursos para deixar a frota em condições operacionais Além das belíssimas praias.

Só tinha um único demérito. A quantidade de suprimentos produzidos pela pequena industria do arquipélago era demasiadamente pequeno para satisfazer as necessidades da frota. O transporte de carga da costa oeste era muito lento e sempre dependia de grandes navios para trazer produtos em quantidade razoável para manter as operações e os milhares de militares e suas famílias que viviam no Havaí.

Sendo o Havaí o centro de gravidade do comando militar dos Estados Unidos, Pearl Harbor, portanto era um alvo tentador para as operações de guerra japonesas.

Yamamoto o Homem e o Gênio Militar

O fato mais irônico na história do ataque japonês a Pearl Harbor, é que seu autor, o Almirante Isoroku Yamamoto, sempre se mostrou contrário a uma guerra entre o Japão e os Estados Unidos. Ele havia servido como adido militar junto à embaixada japonesa em Washington nos anos vinte e conhecia perfeitamente o poderio industrial e militar dos americanos. Sabia dos seus inesgotáveis recursos materiais, das infinitas possibilidades de sua indústria e de seu enorme poder econômico. Além do recurso humano, ele sabia que apesar da opinião publica ser adepta ao isolacionismo, o espírito aguerrido do povo americano, bem como sua vontade de lutar e superar as adversidades viriam à tona caso a América fosse agredida. Comparando as duas realidades Japão e Estados Unidos Yamamoto chegou à conclusão que em uma guerra prolongada com os americanos o Império Japonês sairia derrotado.

Almirante Yamamoto

Yamamoto era partidário de uma política de cooperação mutua com os Estados Unidos. Foi diretamente contra o Pacto Tripartite com a Alemanha e Itália.

Meses antes do ataque a Pearl, num memorando dirigido ao ministro da marinha disse ele: “A guerra Japão-Estados Unidos será um acontecimento sinistro dos mais graves para o mundo. Para o Império enfrentar mais um forte inimigo, após vários anos de guerra sagrada (contra a China), representa um sério perigo. Nada temos a ganhar numa guerra contra os EUA, mas tudo a perder”.

Mesmo tendo opinião contra a guerra nipo-americana, Yamamoto seguiu as diretrizes de seus superiores. Ele era um militar honrado que amava seu país. Um profissional muito capaz, que em 1940 assumiu o posto de Chefe da Esquadra Conjunta (similar ao de Comandante de Operações Navais na Marinha do Brasil).

Indagado pelo ministro da marinha japonesa como pretendia derrotar os americanos. Ele respondeu usando um dos velhos provérbios que aprendera do avô. “Se quiseres os filhotes do tigre vai buscá-los em sua toca”. Yamamoto completou “Minha iniciativa será atacar Pearl Harbor, quando lá estiver concentrada o melhor da frota americana do Pacífico. Nossa única possibilidade de vencer essa guerra é destruir a esquadra norte-americana no Havaí”.

Como estrategista Yamamoto sabia que somente um golpe fulminante atordoaria o inimigo. Ele prepararia planos para dar tal golpe nos americanos a fim de forçá-los a pedirem pela paz. Esse bravo comandante sabia que o Japão teria fôlego para causar esse efeito por apenas 7 meses de luta. Esse era o tempo que tinha para alcançar a vitória.

A Estratégia Japonesa

Para decidir a guerra num prazo tão curto, o Japão teria que assestar logo de inicio golpes mortais no inimigo, no que diz respeito aos Estados Unidos, o golpe de maior prejuízo as suas operações militares era a total destruição da Frota do Pacífico. Assim Yamamoto, o contra-almirante Takajiro Onishi chefe do Estado-Maior da Esquadra Conjunta e o capitão de mar e guerra Minoru Genda seu chefe de operações reúnem-se em fevereiro de 1941 para criar as primeiras diretrizes que consumariam o ataque a Pearl Harbor.

Os três militares chegaram à conclusão que a melhor alternativa para alcançar o inimigo seria por meio de ondas de aeronaves que decolariam de porta-aviões ancorados a 260 milhas da costa do Havaí. A seção de inteligência informou a localização dos aeródromos americanos na ilha de Oahu. Também que a baía de Pearl era estreita e pouco profunda o que impediria manobras defensivas dos navios americanos.

Em 24 de Junho de 1941, após quebrar a resistência de comandantes navais ortodoxos que defendiam a tese de que o primeiro ataque aos Estados Unidos deveria ser dirigido às Filipinas, Yamamoto apresentou ao Estado-Maior da Marinha Japonesa, em linhas gerais, o plano para o ataque a frota americana do Pacífico. Munido de fotos entre outros documentos fornecidos pela inteligência, ele mostrou cada ponto defensivo americano e como faria para neutralizar essas contingências. O almirantado por unanimidade aprovou o plano para a “Operação Havaiana” de Yamamoto.

Com a aprovação do plano de ataque pelo Alto-Comando, Yamamoto expediu aos comandantes a diretiva operacional para o ataque a Pearl Harbor. Sendo o sigilo vital para o sucesso da operação somente os chefes das mais altas patentes tiveram acesso a local, datas e horários do grande ataque.

Onde está a Esquadra Japonesa?

As relações diplomáticas de Estados Unidos e Japão haviam se deteriorado muito durante o final dos anos 30. Ciente de que o Império Japonês poderia ser um eventual inimigo, os serviços de inteligência americanos introduziram diversos espiões em terras japonesas, com o objetivo de colher o maior numero de informações do esforço de guerra nipônico.

Em agosto de 1941 a inteligência americana conseguiu quebrar o código operacional da marinha japonesa. Junto aos informes dos espiões, a inteligência naval americana através de mensagens decifradas descobriu que uma forte esquadra composta de 31 navios de guerra, sendo 6 porta-aviões haviam zarpado do Japão.

A localização e o destino deste imenso aparato seriam as principais preocupações da inteligência naval americana naquele novembro de 1941. A esquadra japonesa simplesmente havia sumido, não havia evidência de seu suposto destino, perdida estava Pacífico adentro. Naqueles dias de tensão a frase mais escutada nos corredores do Departamento de Guerra em Washington era: “Onde está a esquadra Japonesa”.

Aviões de observação foram enviados das Filipinas e de Midway com o objetivo de localizar a frota nipônica, porém com a intenção de evitar essas aeronaves Yamamoto traçou uma rota que passava muito além da autonomia dos aviões de observação, a rota de “mar ocioso” trecho fora das principais rotas usadas no Pacífico. Ele ainda havia ordenado silêncio total nas comunicações, para evitar que as ondas de rádio permitissem sua localização. Com essas medidas era praticamente impossível monitorar a esquadra.

Nitaka Yama Nobore

Na tarde de sábado 06 de dezembro de 1941, a maioria das unidades navais sediadas em Pearl Harbor se encontravam ali ancoradas. Somente os porta-aviões Enterprise que estava a caminho de Wake, Lexington que havia levado aviões a Midway e o Saratoga que estava na Califórnia se encontravam ausentes. Vale lembrar que a esquadra sediada em Pearl Harbor era exatamente o que a marinha americana tinha de melhor entre suas belonaves. Lá se encontravam os encouraçados Oklahoma, Tennesse, Pennsylvania (que se encontrava em reparos), Arizona, Nevada, West Virginia, Califórnia e o Maryland. Os cruzadores Honolulu, Raleigh, St Louis e Helena , os contra-torpedeiros Downes, Cassin (em reparos), Utah e Curtiss. Yamamoto sabia que essa forte esquadra seria o maior e mais perigoso oponente a ser enfrentado no Pacífico. Destruí-la era a medida mais sábia para manter a hegemonia no sudeste asiático.

À noitinha do dia 06 de dezembro a frota japonesa já se encontrava a uma distância de onde seus aviões poderiam decolar, lançar suas bombas e torpedos, destruindo tudo o que fosse possível, e em seguida voltar aos porta-aviões. Para executar a missão seriam empregados 432 aviões japoneses, em três ondas de ataque.

Cada tripulação fora instruída a atacar um alvo respectivo. Os pilotos receberam fotos dos alvos que deveriam atacar, inclusive fotos e mapas dos locais de sua ancoragem. Essas informações precisas vieram dos numerosos espiões japoneses que se basearam em Oahu, muitos havaianos de origem japonesa trabalharam para a inteligência nipônica. A rede de espionagem japonesa no Havaí era tão espalhada e precisa que os pilotos japoneses bombardearam só os hangares do Exército que continham equipamento vital e ignoraram os hangares vazios. Alguns desses pilotos japoneses eram graduados de escolas secundárias de Honolulu, e estavam familiarizados com a região.

Naquela noite de seu Quartel-General em Tóquio Yamamoto envia uma mensagem ao almirante Nagumo, que comandava a frota. Dizia a mensagem: Nitaka yama nobore (escalem o monte Nitaka) a senha para desfechar o ataque a Pearl. Na manhã de domingo, por volta de 7:30 da manhã a primeira onda de aviões parte em destino a Pearl Harbor.

Às 8 horas da manhã as primeiras bombas japonesas começam a cair sobre a base aeronaval americana. Um torpedo japonês acerta a proa do Oklahoma, uma bomba é lançada sobre o convés do Arizona, essa atinge o depósito de munições do navio explodindo-o Outras aeronaves japonesas causam sérios prejuízos aos couraçados West Virgínia, Maryland e ao cruzador Honolulu.

Os Zeros japoneses atacam também as bases aéreas do exército destruindo 188 aviões americanos.

Na segunda onda os japoneses atacam alvos do comando central na ilha de Oahu, hangares ao norte do arquipélago, navios nas docas e até mesmo o hospital foi alvo da fúria japonesa

Pearl 07

O surpreendente ataque, que deixou o mundo inteiro pasmo e os Estados Unidos sem fôlego durou cerca de 2 horas. Neste curto espaço de tempo as forças armadas americanas perderam o que demais moderno possuíam. Quando os últimos Zeros deixaram os céus do Havaí, pode-se constatar a enormidade das baixas sofridas pelos americanos. No relatório de perdas encontram-se 18 navios afundados ou seriamente atingidos. Além da perda do Arizona, Oklahoma, Helene, Shaw e do navio-oficina Vestal, os couraçados Califórnia, Tennesse, Pennsylvania e Nevada foram seriamente avariados e colocados fora de ação por muito tempo. Paralelamente foram destruídos nos aeroporto e hangares do arquipélago 180 aviões do exército e 92 da marinha e pelo menos outros 159 sofreram avarias. O atraque japonês tirou a vida de 2.326 militares e 86 civis, além de provocar ferimentos em centenas de pessoas.

Durante o ataque os japoneses perderam 27 aviões e 1 submarino. Levando-se em consideração a envergadura e o sucesso da operação as perdas foram muito pequenas.

“O ataque a Pearl Harbor constituiu feito militar tão audaz e de êxito tão retumbante que merece um lugar especial na História. Em um só golpe magistral o Japão não apenas abriu a primeira fase da Guerra no Pacífico, mas lançou uma destruição em massa sobre a poderosa frota americana que foi totalmente tomada de surpresa nas ilhas havaianas. Quando nosso Serviço de Inteligência catalogou os resultados finais da Operação Havaiana, verificamos que o ataque havia infligido danos aos navios de guerra americanos em escala muito maior do que os prognósticos mais otimistas. O desmantelamento de um grande e poderoso segmento da frota americana colocava as unidades navais japonesas numa posição de poderio suficiente para permitir nossa rápida movimentação através do Pacífico e do Indico”. (trecho extraído do livro Zero)

E foi realmente o que aconteceu. Não temendo mais a esquadra americana aniquilada em Pearl Harbor, as forças japonesas puderam espalhar-se sem dificuldades por quase todo o Pacífico.

O evento levaria uma nação relutante a entrar na Segunda Guerra Mundial. Na noite de 8 de Dezembro, em reunião extraordinária do Congresso, o Presidente Franklin Delano Roosevelt declara guerra ao Império Japonês. Em seu discurso disse: “O repentino e criminoso ataque perpetrado pelos japoneses no Pacífico é o ponto culminante de uma década de imoralidade internacional…. Os japoneses violaram traiçoeiramente a paz que há anos reinava entre nossas nações… Por esse motivo declaramos guerra ao Império Japonês…. Tenho a confiança de que todos conservaremos as grandes causas espirituais da Justiça, da Fé e da Coragem, sem as quais não poderemos sair triunfantes… os Estados Unidos não irão aceitar outro resultado senão a vitória completa e final”.

Questionando…

É impossível por a prova o brilhantismo da Operação Havaiana e a astúcia e tirocínio de Yamamoto, porém a vergonhosa derrota americana sempre trará questionamentos por parte de militares, especialistas e estudiosos do assunto.

O primeiro questionamento a ser levantado, é como o Serviço de Inteligência dos Estados Unidos (que naquela época era um dos melhores do mundo) deixou-se ser ludibriado pela contra-espionagem japonesa, se até um espião soviético (Richard Sorge) infiltrado na embaixada alemã em Tóquio já relatava para Moscou em outubro, que uma ação militar japonesa contra os Estados Unidos estava prestes a acontecer?

Outro fator de ponderação se dá a notória negligência por parte das autoridades militares americanas de tomar providências relativas à defesa de suas bases no Pacífico. Se um inimigo em potencial lança um imenso aparato militar ao campo, a primeira ordem de um comando prudente, seria colocar as unidades militares da área em alerta ou em prontidão, algo que não aconteceu.

Porque o almirante Kimmel (comandante militar de Pearl Harbor) não levou em consideração a ameaça japonesa, quando em Agosto diversos espiões foram presos com fotos, mapas e outros documentos de localização dos navios da Armada?

Porque o general Short comandante das unidades aéreas do exército não instituiu patrulhas de reconhecimento permanente? Se houvesse caças interceptores americanos nos céus do Havaí o inimigo perderia o fator surpresa.

Essas e outras perguntas levaram o Senador Alvin Barckley do Kentucky a propor a abertura de uma CPI sobre Pearl Harbor no Congresso dos Estados Unidos em Novembro de 1945. Os congressistas americanos questionaram se houve negligência governamental na execução de medidas contra o ataque. Depois de meses de investigação que rendeu um relatório de 25.000 páginas o congresso concluiu que a vergonhosa derrota se deve a incompetência dos comandantes militares de Pearl Harbor.

Pearl Harbor – História Ilustrada da 2ª Guerra Mundial – Editora Rennes 1976
Zero – M. Ikumiya e J. Horikoshi – Editora Flamboyant – 1991
Pearl Harbor – Walter Lord – Bibliex 1991
Pearl Harbor e o Espírito Americano – Larry McCabe – 2001
Pearl Harbor – Randall Wallace – Editora Ediouro – 2001

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