Barão Vermelho: espírito cavaleiresco nos combates aéreos

Nei Nordin

Você já ouviu falar no Barão Vermelho? Se responder que é uma banda de música pop brasileira, não deixará de estar com razão. Mas deve saber que o nome desta banda foi inspirado em um dos maiores ícones da Primeira Guerra Mundial.

Manfred von Richthofen
Manfred von Richthofen

Manfred von Richthofen nasceu em 1892 na Silésia: uma parte da Polônia que na época integrava o império Alemão. Descendia de uma linhagem da aristocracia militar. Seu pai era oficial de cavalaria e por isso ingressou desde cedo na escola militar. Em 1911 foi aceito no regimento de cavalaria.

Com o início da Primeira Guerra Mundial ele lutou na França, Rússia e Bélgica. A “guerra de trincheiras” evidenciou a obsolescência da cavalaria e seu regimento foi extinto. Frustrado e deslocado, trabalhando no serviço de correios do exército, o jovem estava atento por outra colocação que julgasse mais útil e condizente com sua dignidade. Em algum momento, Richthofen teve oportunidade de examinar de perto um avião de combate e imediatamente decidiu que este seria seu caminho. Não demoraria a pedir transferência para a o Serviço Aéreo Imperial Alemão sendo aceito em 1915.

Albatros C. III.
Albatros C. III.

Inicialmente atuou em missões de observação aérea. Logo foi transferido para a frente de combate na região da Champagne. Uma vez concluído seu treinamento para piloto, Richthofen integrou-se ao esquadrão de combate nº 2. Seu primeiro avião foi um Albatros C. III. Há relatos de que era um piloto abaixo da média, tido mesmo como desastrado e com dificuldades de controlar a aeronave. Sofreu uma queda em um de seus primeiros vôos. Tais dificuldades logo seriam superadas e o novo piloto não demoraria a demonstrar suas habilidades e senso tático.

Uma nova etapa iniciaria após um encontro com Oswald Boelcke, considerado como o pai da força aérea alemã. Ele o recrutara para o esquadrão de caça Jasta 2. Boelcke se tornaria seu amigo pessoal e mentor, mas morreria em breve num acidente de colisão com um caça da mesma equipe. Richthofen estava presente no momento da tragédia.

Albatros D. III.
Albatros D. III.

Curiosamente ele não era o grande ás da família. Richthofen inicialmente não possuía habilidade para superar seu irmão, Werner Voss, que também rapidamente se tornou um exímio aviador conquistando logo a marca de quarenta vitórias. Contudo, possuía a qualidade de ser um estrategista brilhante e, sucedendo Boelcke como líder do esquadrão, promovia ações visando preservar seu grupo. Costumava atacar por cima com a vantagem do sol em sua retaguarda e os pilotos cobrindo seus flancos. Seu maior inimigo chamava-se Lance Hawker, oponente pelo qual tinha o maior respeito. Em novembro de 1916 Richthofen conseguiu abatê-lo voando num Albatros D II. Após este combate ele convenceu-se de que necessitava de um avião com mais agilidade. Adotou então um modelo Albatros D. III., que possuía a desvantagem de ser mais lento. Este avião lhe daria mais de vinte vitórias. Em 1917 voaria um Albatros D. V., avião com que seria abatido sofrendo graves ferimentos. Somente após recuperar-se deste acidente é que passaria a voar com o modelo que lhe daria notoriedade: o Fokker Dr. I., o famoso triplano. É preciso salientar que este avião lhe deu apenas dezenove das suas oitenta vitórias em batalhas aéreas.

Fokker Dr. I.
Fokker Dr. I.

Foi, aliás, o seu Albatros D. III. Que recebeu pela primeira vez a pintura em vermelho e lhe rendeu a célebre alcunha. Lembrando que era comum que os aviões fossem pintados com cores cinzentas formais que ainda teriam a função de camuflagem nos céus. Num gesto de ousadia e arrogância, fez questão de escolher a cor vermelha para que fosse logo identificado e temido pelo oponente, causando impacto teatral ao chegar.

Apesar de ser conhecido como Barão Vermelho, apelido que combinava o status de sua família com a cor de seus aviões, sua autobiografia de 1917 traz a o termo Der Rote Kampfflieger, algo como “Guerreiro voador vermelho”. Os franceses o chamaram ainda de “Diabo vermelho” e os ingleses de “Cavaleiro vermelho”.

No cinema

Barão Vermelho cartaz01O Barão Vermelho foi tema de um filme lançado em 2008 sob direção de Nicolai Müllerschön (Alemanha/Reino Unido). O filme é baseado no livro do historiador Joachim Castan.

O filme evidencia dois aspectos interessantes:

Em primeiro lugar a utilização da imagem de Richthofen pelo governo como forma de promover o nacionalismo militar.

Um segundo aspecto, que achei mais interessante é a transformação do barão frente à guerra. Inicialmente engaja-se de forma inconseqüente numa guerra que significa apenas trampolim para adquirir prestígio dentro das aspirações de seu status aristocrático. Gradualmente vai tomando contato com os horrores da guerra percebendo que estava sendo manipulado pelo governo e que deixara-se deslumbrar pela fama.

Podemos perceber no personagem principal certo espírito e dignidade cavaleiresca no respeito ao inimigo.

O fim de uma lenda

Manfred von Richthofen foi abatido em 21 de abril de 1918 aos vinte e cinco anos de idade. Sua derrota está creditada ao piloto australiano Cedric Popkin. Foi enterrado com todas as honras militares e homenageado por todos os países aliados.

Suas façanhas conquistaram o respeito mesmo de seus inimigos. Quando a aviação dava seu grande passo para ser utilizada como máquina de guerra ele soube destacar-se em um campo novo e deixou seu nome gravado e seu feitos lembrados como um dos maiores expoentes da Primeira Guerra Mundial.

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