Esta é mais uma daquelas histórias de um cão que se arrisca para salvar seus donos de uma situação de perigo. Contudo, seu desfecho trágico, no século XIII fez com que o protagonista fosse venerado como santo.
Tratando-se de uma história que atravessou os séculos é normal que tenha assumido diversas versões. Muitos já a ouviram sem que o nome fosse mencionado. No Brasil ela já se deu a conhecer pela espirituosa interpretação do cantor, apresentador e contador de “causos” Rolando Boldrin.
A lenda nasceu na França em algum momento do século XIII e conta que um cavaleiro saiu para caçar deixando seu filho pequeno dormindo no berço junto a seu fiel galgo Guinefort.
Quando o cavaleiro regressou e entrou na pequena habitação, ficou paralisado com o cenário que viu. O berço estava virado, havia restos de sangue entre os lençóis e não viu o filho. Quando Guinefort foi recebê-lo como sempre fazia, com seu alegre movimento de rabo, o cavaleiro ficou ainda mais espantado… o cão tinha a boca e o peito todos manchados de sangue.
O homem chegou à pior das conclusões: Guniefort comera seu filho. Cego de fúria empreendeu golpes no cão até deixá-lo sem vida.
Quando o cavaleiro finalmente se acalmou um pouco, com o cão já destroçado a seus pés, ele escutou o suave choro de seu bebê. Dirigiu para o lugar de onde vinha o barulho e quando arrastou o berço para a sua posição, descobriu então seu pequeno rebento que engatinhava no piso. Ao seu lado uma grande cobra, ele estava também manchado de sangue, mas o sangue era da serpente que estava destroçada e o filho completamente ileso e a salvo.
Neste momento o cavaleiro se deu conta de seu terrível erro. O sangue no berço, no filho e nos dentes de Guinefort pertencia à serpente e a única coisa que o cão tinha feito foi salvar a vida de seu filho. Arrependido o cavaleiro enterrou o pobre cão colocando pequenas pedras sobre sua sepultura e plantando algumas árvores ao seu redor.
A história do heroico cão, e ademais mártir, não demorou a se espalhar entre as pessoas que começaram a visitar sua sepultura e que terminou por se converter em um pequeno santuário. Mães vinham de longe trazendo seus filhos ao túmulo para que fossem abençoados e curados. Os rumoras sobre curas milagrosas não custaram a se espalhar. Guniefort começou a ser considerado um bom santo dedicado a proteger as crianças.
O santuário de São Guinefort ficou cada vez mais popular e as peregrinações a seu sepulcro converteram-se em algo habitual entre a população dos arredores. O fato chamou a atenção da Igreja que iniciou uma investigação sobre o cão santo. Apesar de que teriam aceitado algum dos atos milagrosos relacionados a Guinefort, a igreja nunca reconheceu oficialmente seu culto.
Com a chegada da Inquisição, os restos de Guinefort foram exumados, queimados e seu culto considerado heresia, isto é, quem se arriscasse a cultuar o cão santo poderia virar churrasquinho. Mesmo assim, a adoração a São Guinefort perdurou durante muito tempo e chegou ao início do século XX.
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