– Stéphanie Klein
A série House of Cards é uma série norte americana criada por Beau Willimon para o serviço de streaming Netflix. Ela pode ser considerada um remake, uma adaptação da série britânica de mesmo nome, televisionada pelo canal BBC. O enredo da série é sobre o Deputado Francis Underwood, um homem totalmente ambicioso, manipulador, maquiavélico que almeja o cargo de Presidente dos Estados Unidos. A série reforça várias histórias e símbolos, exemplos, Mr. President, Príncipe Maquiavélico e L’État, c’est moi. Faremos um contraponto entre esses símbolos , histórias e seu significado na série House of Cards.
Através do protagonista, Francis Underwood mostra sua árdua jornada para chegar ao poder. Enquanto isso, também mostra os esquemas de corrupção no Congresso dos Estados Unidos, suas jogadas com a imprensa e os lobistas – pessoa que manipula o “mercado” em favor de quem o contrata – procurando aprovar e vetar leis em seu próprio benefício.
“O Príncipe”, de Maquiavel, escrito há cinco séculos, descreve como os governantes devemo fazer para chegar ao poder. No livro, Maquiavel afirma que a maioria das pessoas, ao tentar agradar o príncipe, lhe oferecem itens caríssimos, mas que ele, desejando, portanto, oferecer um testemunho de sua dedicação, oferece algo de ainda mais valor e estime: o conhecimento.
Na série, Francis Underwood só deseja chegar ao centro do poder, o Salão Oval da Casa Branca. Ele não mede esforços para conseguir isso. Francis não quer dinheiro, ele quer o poder. Durante a série, se mostra um homem articuloso, frio, calculista, consequentemente seu casamento com Claire também é assim. O casamento é como se fosse um contrato, que duas pessoas fizeram para tirar proveito uma da outra, uma sociedade. Claire Underwood é diretora de uma ONG que se beneficia de lobistas que trabalham para Francis. O casal se ajuda com favores no meio de trabalho.
Maquiavel em seu livro está em busca da lealdade do seu povo, Francis quer que o povo acredite e confie nele, porém ele não confia em ninguém. Durante vários momentos da série, Underwood faz acordos com outros políticos, sempre buscando a lealdade deles, mas os fazendo de marionetes para conseguir o que quer. Exemplo disso é o Deputado Peter Russo, em que Francis ajudou sua candidatura a Governador, porém Russo foi assassinado por Underwood assim que ele não era mais útil em seu caminho à vice presidência.
Em todos os episódios Francis busca o que quer, em nenhum momento ele pensa no próximo. Com suas artimanhas, manipula todos, por ser calculista consegue o que quer. A primeira temporada da série foi um “mar de rosas”. O casal consegue fazer tudo e ninguém descobre, mas em algum momento a “casa caiu”.
Francis já não é mais um ambicioso discreto, o poder subiu na sua cabeça e só está cometendo erros, não sendo mais calculista nem frio, agindo de cabeça quente porque agora já é vice-presidente e está muito próximo de ser o chefe da nação. Vai manipulando relações comerciais e políticas com a China para provocar uma crise diplomática. Além disso, coloca um projeto de lei que, para ser aprovado, precisa de votos de republicanos e democratas, assim criando uma unificação entre os partidos, que vai acarretar o impeachment do presidente. Na terceira temporada, Francis já é Presidente, mas parece que estar no Salão Oval da Presidência não saciou sua cede, apenas a aumentou.
House of Cards mostra história do “Mr. President”, a ultima escolha é sempre do presidente. Na cena em que Francis e o Presidente Walker estão tomando whisky e conversando sobre a crise na China, Walker diz para Underwood sentir a sensação de estar sentado na cadeira, onde provavelmente o Presidente Truman teria decidido jogar a bomba atômica no Japão na II Guerra Mundial. Toda essa metáfora de sentar e sentir a sensação só nos mostra que todo o poder está na mão de um homem, o presidente.
“O homem sábio deve sempre seguir as estradas pavimentadas pelos Grandes e imitar aqueles que tiveram maior sucesso, de modo que se ele não alcançar a perfeição, ele pode pelo menos adquirir um pouco de seu sabor.” Francis quer inovar, quer conseguir chegar no poder e fazer coisas que ninguém fez, como o projeto de lei em que a idade da aposentadoria seria aumentada. Esse projeto está paralisado desde o governo de Lyndon B. Johnson, mas Francis conseguiu que ele fosse aprovado.
Na série, o poder está divido em duas partes: os lobistas que estão sempre atrás de seus interesses econômicos, que não são leais. Exemplo disso é Remmy, lobista que trabalhou para Francis por anos, mas na segunda temporada acaba virando inimigo de Underwood porque seus interesses econômicos não estão mais ligados e acaba entrando num esquema de corrupção. O outro lado do poder é o governante, o homem mais poderoso, Francis Underwood. Não importa se é no cargo de deputado ou presidente, é ele que manipula a todos.
“L’État, c’est moi” – o estado sou eu- já dizia o rei da França Luís XIV. House of Cards tem essa visão absolutista do poder. Na série não há grupos ativistas, mas um partido Republicano e outro Democrata. Francis trata o presidente como uma marionete. Enquanto o manipula, Underwood vai escondendo a crise entre os Estados Unidos e a China. Assim, podemos ver que o centro do mundo está nas mãos de um Vice-presidente que manipula tudo e a todas para conseguir sua auto-satisfação.
“Em uma parte do livro “o Príncipe”, Maquiavel diz: “É melhor ser temido do que amado”. Podemos resumir assim a história de House of Cards, um jogo de poder e conflitos, onde há pessoas ambiciosas, que fazem de tudo para alcançar o que querem. Preferem ser temidos a ser amados.
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