O Drácula, ficcional e histórico

Os temas vampirescos sempre tem espaço garantido no gosto de leitores e cinéfilos, seja em tramas mais sofisticados ou em romances para o público adolescente. A temática alimentou todo o tipo de temores e fascínios nas pessoas.

Ao longo dos tempos os vampiros foram admirados e temidos e houve mesmo pessoas que pensaram ser vampiros e tentaram se alimentar de sangue.

Em 2011 a jovem Stephanie Pistey, acusada de seduzir e assassinar um adolescente de 16 anos, declarou à polícia da Flórida que praticou o crime porque, desde os doze anos era parte vampira e parte lobisomem. Ela integrava uma seita de cultura vampiresca. No mesmo ano o jovem Lyle Bensley, invadiu o apartamento de uma mulher, no Texas, e tentou mordê-la no pescoço para sugar-lhe o sangue. Ele alegou ser um vampiro de mais de quinhentos anos de idade. A lista ainda é extensa.

A mitologia do vampirismo existe desde a Idade Média e trata de seres demoníacos, fantasmas ou cadáveres humanos que retornam da tumba para prejudicar os vivos. Há pesquisadores que identificam a origem do vampirismo em crenças do Antigo Egito. O fato é que desde o medievo, existe todo um imaginário no leste europeu de que recém nascidos, portadores de alguns sinais a anomalias, deveriam ser sacrificados por estarem destinados à maldição do vampirismo. Deformidades eram consideradas como um presságio e muitas crianças foram de fato mortas ao nascer ou tiveram de conviver com o estigma do mal. 

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Bram Stocker

De lá pra cá o mito do vampirismo assumiu contornos do mundo moderno e da cultura de massas. No século XIX surgiria o personagem conhecido como o maior de todos os vampiros, o conde Drácula. Seu criador foi o romancista Abraham Stoker ou Bram Stoker (1847-1912).

Stocker pesquisou durante muitos anos o folclore europeu e a mitologia vampiresca. Sua maior obra literária é o romance Drácula, publicado em 1897. O livro foi elogiado pela crítica, mas não alcançou sucesso imediato e não conheceu boa recepção entre o público vitoriano. Somente no decorrer do século XX quando sua leitura foi estimulada pelas adaptações cinematográficas é que a obra ganhou projeção.

A primeira adaptação de Drácula para o cinema foi realizada em 1922 e dirigida pelo alemão F. W. Murnau, sob o título de “Nosferatu”, palavra sinônimo de vampiro na literatura. O filme rendeu muitos elogios ao diretor e também rendeu um processo por direitos autorais, uma vez que a família de Bram Stoker não havia autorizado a adaptação. A película teve de ser recolhida por ordem judicial.

A partir de então o mito do vampirismo, encarnado por seu representante mais ilustre e poderoso, começaria a se tornar um dos maiores personagens do cinema do século XX. Dezenas de filmes contaram versões da história do vampiro.

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Nosferatu de 1922. Dirigido por Friedrich Wilhelm Murnau

Não podemos esquecer que o personagem de Bram Stoker foi inspirado numa figura histórica real. O conde Drácula foi baseado em um personagem histórico que ironicamente foi um defensor do cristianismo.

Vlad Dracul Tepes III (1431-1476) nasceu na região da Transilvânia, na Romênia onde sua memória é celebrada por lutar como um devotado cristão ortodoxo, contra o domínio otomano e pela independência nacional. Ele também consolidou sua fama por ser cruel e sádico com prisioneiros e com quem quer que lhe causasse desagrado. Conhecido como Vlad, o empalador, ele ordenava que as pessoas fossem empaladas e expostas em uma colina próxima de seu castelo de modo que fosse vista por todos que passassem, como forma de intimidação. Praticava ainda toda uma série de torturas e crueldades.

Sua família enfrentou a dominação otomana e disputou o trono da Valáquia, da qual se tornara regente. Esta região era subordinada à Hungria cujo rei exigia que seu pai, Vlad II, rendesse pesados tributos aos turcos otomanos como política de apaziguamento. A partir de 1443 o regente iniciou uma política de resistência na prestação de tais tributos, o que faria o reino da Hungria exigir satisfações. 

Vlad Tepes III
Vlad Tepes III

Os Dracul foram obrigados a fugir, mas logo retornariam a serviço do rei húngaro, Vladislau I, numa cruzada contra os turcos. A cruzada de Varna possibilitou seu retorno à Valáquia. Em 1447, Vlad II foi assassinado juntamente com seu filho mais velho, Mircea. No ano seguinte Vlad Tepes assumiria o trono, mas por intrigas e perseguições precisou fugir e se esconder.

Em 1465 ele organizou um pequeno exército e assumiu o trono da Valáquia. Nesta época já havia adquirido o título de empalador. Ele governou até 1462 quando os otomanos marcharam sobre o reino e fizeram com que fugisse novamente e acabasse caindo como prisioneiro do rei húngaro, Matia I, por cerca de uma década. No cativeiro conseguiu angariar as simpatias da corte húngara e obteve uma nova aliança para combater os otomanos. Assim retornou à Valáquia a frente de um grande exército e libertou o reino.

Vlad Tepes morreu em 1476 próximo à Bucareste, atual capital da Romênia. Existem vários relatos que reivindicam ser a versão correta das circunstâncias da sua morte. O destino de seu corpo também é incerto.

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