O intendente Sansho. Um clássico do cinema japonês.

– Caroline Serpa

Em meados do século XII, em meio ao sistema feudal no Japão, o governador de Tango possuía ideais humanos para com os camponeses.

Sansho 02 Ao se recusar a escravizá-los e lutando pelo direito e igualdade a todos, foi exilado e consequentemente separado da família ao defender com honra e compaixão aquilo em que acreditava. A esposa Tamaki e os filhos Zushio e Anju, fogem. Em meio a viagem, e em uma cidade onde não conseguem abrigo para passar a noite, eis que recebem ajuda de uma senhora que acaba por enganá-los e vender as crianças como escravos e a mãe como cortesã na manhã seguinte. Mãe e filhos então se separam, as crianças passam a ser escravizadas em um feudo com o comando do Intendente Sansho, um homem cruel que punia com rigor quem tentasse fugir. La então passam 10 anos vivendo no medo e na esperança de reencontrar a família. Anju nunca esqueceu as palavras do grande homem que fora seu pai, enquanto Zushio já se deixava contaminar pela pelo sistema vivido no feudo e esquecendo-se de suas raízes. Anju então acaba tendo notícias de sua mãe de uma forma muito emocionante, o que reforça suas esperanças de se juntar a família novamente. A coragem faz com que os dois consigam escapar, se valendo da confiança que o Intendente já possuía em Zushio. A partir daí começa uma incessante luta pelo reencontro movida pelo amor de uma família e a luta de um povo pelos seus ideais.

Sansho 01Confesso que ao entrar na sala de cinema, pensei que não aguentaria nem 10 min do filme. Apenas por não ser um filme nos moldes tradicionais e hollywoodianos, gerei de cara um pré conceito. Mas fui mesmo assim, e não só consegui assistir a 2 horas do filme, como despertou em mim sentimentos extremamente poéticos. Cada cena, filmada em 1954, com uma linda e melancólica fotografia, traz toda uma realidade histórica e cultural de um país tão fascinante, mas num contexto emocional de relações familiares, crueldade, e com um grande lição de esperança, respeito e humanidade. Em pesquisa na internet após o filme, descobri que foi baseado numa lenda recontada pelo escritor Mori Ogai em um conto de 1915 e Leão de Prata no Festival de Veneza de 1954, o que não era pra menos. Além de ter assistido a uma belíssima história, saí do cinema encantada com a possibilidade de me permitir conhecer coisas novas. Não sei se o filme tocaria a todos como me tocou, e também sei que muito também torceriam o nariz como fiz no começo, mas eu posso dizer que a sensação de adquirir cultura e conhecimento vale a pena!

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