The White Queen: série histórica, mas nem tanto

Nei Nordin

Em tempos de farta produção de seriados épicos, fui conferir mais uma série de TV ambientada na história da Inglaterra. Esta, especificamente, no período da guerra das duas Rosas. The White Queen é uma série produzida pela BBC britânica em parceria com o canal norte americano Starz.

A adaptação literária foi realizada por Emma Frost, roteirista que já assinou outros trabalhos para a BBC. A série é uma adaptação do romance “The Women of the Cousins War”, da escritora Phillippa Gregory.

The white queem 05Além do contexto de fundo, que é a luta entre as famílias York e Lancaster pelo trono da Inglaterra, o enredo tenta dar conta do complexo jogo de poderes que se tramava entre aqueles que orbitavam o poder real em meio a perdas, sedução, amor, traição e morte. O enfoque da trama está no papel desempenhado por três personagens femininas: Elizabeth Woodville, Margaret Beaufort e Anne Neville, interpretadas respectivamente por Rebecca Ferguguson, Amanda Hale e Faye Marsay.

Uma pena constatar que a série decepciona já nos primeiros capítulos, o que se evidencia por exemplo no papel do rei Edward IV da dinastia York. O ator Max Irons nos proporciona um rei inverossímil e sem carisma, o que ocorreu também com outros personagens. O resultado foi que a produção sofreu de baixa audiência a ponto de a BBC não pedir sua renovação, o que fez a STARZ procurar uma maneira de viabilizar não uma continuação, mas uma sequência da trama em nova versão. O fato foi motivado principalmente por que nos EUA a série teve boa recepção ao contrário do que aconteceu entre os espectadores da Inglaterra onde a imprecisão histórica causou mal estar entre o público.

Nos Estados Unidos o rigor histórico não foi um fator significativo no critério da audiência. A própria roteirista, Emma Frost declarou que “se os aspectos históricos fossem seguidos com rigor, estariam todos com dentes podres na boca, fedorentos e constantemente catando seus próprios piolhos e ninguém quer ver um show desse tipo”.

Realmente no quesito de costumes e caracterização de época a equipe de produção da série exagerou no desleixo a ponto da questão ter virado chacota na internet. O jornal Dali Mail publicou uma reportagem sobre os erros considerados grosseiros (22/06/2013). A partir daí os patrulhadores começaram a apontar todo o tipo de falha nas cenas como solados de borracha, reflexos de prédios modernos nos vidros, trajes com fecho eclair que só foram inventados no século XIX. O professor de História Michael Hicks, da universidade de Winchester, classificou a série como “fanfarrona”.

The white queem 03Há ainda o elemento do sobrenatural que neste caso depõe contra a credibilidade de uma série que se propõe histórica. As mulheres da família Rivers (dinastia York) praticam rituais de magia e detém o poder de manipular o clima invocando tempestades e nevoeiros ou ainda visões premonitórias, sempre com o intuito de articular vinganças ou interferir nos eventos políticos.

Sabemos que a “licença poética” está impregnada em todas as produções épicas. E que certa Tolerância deve ser aplicada. Em minha opinião não são as falhas na caracterização e nos costumes o problema principal. Penso que a série peca mais pela artificialidade da trama. Os elementos essenciais estão postos, mas parece que falta alguma coisa, seja por que o personagem não convence ou porque muito do enredo mostrou-se simplificado demais.

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Mas o que sobra então?

Achei interessante a perspectiva de resistência feminina frente a um mundo de homens. Restava à mulher conformar-se em desempenhar o papel de mero instrumento de acordos patriarcais e submeter-se a casamentos que significavam uma vida de tormentos. Algumas não se conformavam e buscavam explorar as brechas do sistema. Homens eram fortes e poderosos, mas podiam ser manipulados.

The white queem 04Em certa medida a série nos dá a perceber a tensão constante que pesava sobre as monarquias devendo estar sempre atentas à dança das fidelidades e traições. A coroa  sustentava-se sobre redes de fidelidade demasiado frágeis e prontas para ruir ao menor abalo. Detalhe interessante que nem sempre transparece com o devido peso no cinema.

No aspecto geral considerei a série bastante fraca com personagens insípidos. Como professor de História, estou sempre atento a este tipo de produção, principalmente para garimpar algum recorte de cena que possa usar em aula. Não encontrei nenhum ali. Não digo que não valha a pena assistir, mas aconselho que o espectador mais exigente não crie expectativas elevadas.

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