Nei Nordin
Realizar refilmagens de clássicos antigos e consolidados é sempre uma tarefa delicada, pois implica em contentar uma legião de fãs que nem sempre possui disposição para ver seu ícone modificado. Além do fato de que verba e tecnologia digital não são garantias de um bom trabalho.
Contudo, não fiquei totalmente decepcionado com a nova versão de “O dia em que a terra parou” pela atualidade do problema que aborda: a destruição do planeta pelo homem.
Quando foi lançada a primeira versão, em 1951, expressões como aquecimento global ou efeito estufa não existiam. Mesmo assim os contextos da guerra fria e da era atômica que se iniciavam já nos permitiam levantar a questão da destruição total do planeta pela irracionalidade bélica. Assim, o extraterrestre Klaatu vem à terra com a missão de prevenir os humanos de uma possível catástrofe.
Em 2008, contextualizado na crise ambiental que vivemos, o novo filme veio mais atual do que nunca e trouxe uma sentença (óbvia, por sinal): o mal somos nós! Lembro-me de assistir há algum tempo, uma entrevista com Dr. Hunter Adams (que inspirou o filme “Patch Adams, o amor é contagioso”, de 1998). Em certo momento ele afirmou que a extinção da vida humana da terra num curto prazo de tempo era uma possibilidade real, “o que seria ótimo para as plantas e os animais”. Aquilo ficou “martelando” na minha cabeça: nós somos o mal e talvez a única chance de nosso planeta sobreviver seja nossa própria aniquilação. Esta é, por fim, a missão do Klaatu de 2008: salvar a terra… de nós mesmos.
O ser humano é uma criatura curiosa e interessante. Somos capazes de realizar os atos mais nobres e criar as invenções mais maravilhosas e incríveis. Por outro lado, praticamos os atos mais destrutíveis e sempre nos excedemos em nossa crueldade. Vivemos neste terrível paradoxo de alcançar níveis de tecnologia nunca imaginados e usar todo este conhecimento para destruir nosso planeta.
Somos embriagados por uma arrogância cristã que nos ensina que fomos criados à imagem e semelhança de Deus, o que implica na noção de que somos superiores a todas as criaturas, que existiriam unicamente para nos servir.
O filme “O dia em que a terra parou” não passa de uma obra de ficção científica, mas que acertou em cheio em um ponto crucial da condição da espécie humana do século XXI: a arrogância e a soberba.
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